Resumo: | O livro analisa o processo histórico pelo qual a doença de Chagas ou tripanossomíase americana (descoberta em 1909, em Minas Gerais, por Carlos Chagas, médico e pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz/IOC) foi estabelecida e reconhecida como fato científico e questão de saúde pública no Brasil. Numa primeira fase, são abordadas as pesquisas realizadas por Chagas e seus colaboradores, no IOC, desde 1909 até o seu falecimento, em 1934. Os enunciados sobre o quadro clínico e a importância médico-social da nova enfermidade ensejaram o debate sobre as condições de 'atraso' das regiões do interior do país, a relação entre endemias rurais e identidade nacional e o papel social da ciência. Por outro lado, foram objeto de críticas, formuladas inicialmente na Argentina, entre 1915 e 1916, e aprofundadas no campo médico brasileiro, entre 1919 e 1923. Tais questionamentos marcaram de modo decisivo o encaminhamento dos estudos sobre a doença. Um segundo período analisado pela autora diz respeito às pesquisas empreendidas, após 1934, por dois discípulos de Carlos Chagas em Manguinhos: Evandro Chagas, seu filho mais velho e criador do Serviço de Estudo das Grandes Endemias, e, principalmente, Emmanuel Dias, que dirigiu o Centro de Estudos e Profilaxia da Moléstia de Chagas, posto do IOC criado em 1943 na cidade de Bambuí, Minas Gerais. Nesta fase, foram produzidos novos conhecimentos sobre a definição clínica da doença e estabelecidas as bases técnicas para a realização da primeira campanha de profilaxia, em 1950. Tal processo esteve diretamente associado ao debate sobre a relação entre saúde e desenvolvimento nos cenários internacional e nacional, especialmente a partir da II Guerra Mundial. Mediante intensa mobilização dos cientistas para conquistar o interesse de distintos grupos sociais para o tema, a tripanossomíase americana alcançaria, durante a década de 1950, um amplo reconhecimento como fato científico e objeto das políticas sanitárias do Estado brasileiro. (AU).
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